... E se incendeias meu cérebro,
Então te conduzirei no meu sangue (Rilke)

2 de jun. de 2014

Beleza e Tristeza - Yasunari Kawabata

"Beleza e Tristeza", do romancista japonês Yasunari Kawabata, chega ao público brasileiro como fruto do trabalho de uma equipe mais que respeitável.

Como toda a obra de Kawabata, "Beleza e Tristeza" é o romance de um mundo globalizado. Não, porém, de maneira explícita, pois a globalização não é seu tema. Ela é sua circunstância. Escrevendo em meados do século XX, sua obra tem por contexto histórico a modernização voluntária do Japão antes da Segunda Guerra, e sua ocidentalização (ou americanização) compulsória depois da derrota. Isso se reflete no livro de muitos modos. Por um lado, a própria forma do romance realista-psicológico é ocidental. Por outro lado, a visão de mundo é japonesa. E se o romance, no sua origem, é narração, isto é, ação, na sua migração para o Japão se torna contemplação. Uma contemplação, porém, expandida para a dimensão de um romance, e perturbada pela presença do passado no presente, assim como pela invasão do presente de um passado ainda marcante.

Nas palavras do posfaciador, “Cenários e objetos apresentados não apenas situam a ação, mas caracterizam especialmente a inação, mais precisamente, a contemplação da situação. Kawabata dá preferência a ambientes esvaziados, silenciosos, em momentos inertes. Quando figura situações movimentadas, sugere que são desagradáveis, ruidosas, perturbadoras. Assim, desde a primeira cena no trem vazio, [contempla-se] a paisagem do Monte Fuji, interrompido pela presença ruidosa de turistas americanos. [...] Paisagens e vistas panorâmicas são como que pintadas no texto. [E se] o cenário interessa, é pelo simbolismo da ausência, seja do passado histórico que assombra os monumentos, seja da melancolia da contemplação solitária, seja da catástrofe anunciada ao futuro”.

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