Nascer ou não nascer, eis a verdadeira questão. Shakespeare não sabia do que falava. Se ele vivesse num Quarto Branco como o meu, nunca teria tido o desplante de escrever o que escreveu. E quando um homem é escorraçado para uma prisão minúscula ou para uma infinidade vazia, como aquela que habito há trinta anos de envelhecimento, só uma coisa o faz mover; sonhar com a fuga que quer empreender. Olhava para todos os lados sem parar, procurando um ponto cardeal ou uma estrela polar, uma seta no chão, um aceno no horizonte, uma simples cruz a marcar o lugar, uma premonição, um verso codificado ou um trilho de migalhas no chão; precisava de uma direcção. Fiquei por ali, gritando o mais alto que podia, em aflição, que precisava de um caminho, de um rumo e de uma direcção, mas como não havia paredes onde o som pudesse ressoar as palavras iam e nunca voltavam. Era incapaz de me ouvir, e só sabia que estava a gritar pela trepidação dos meus ossos que sentia do esforço sobre-humano que fazia. E fiquei naquilo milhares de vezes repetindo, ou milhões ou biliões, pois nunca as contei, até que me calei por meu próprio convencimento. Tal era a soberba ou a surdez do dono daquele lugar.
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